quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Especialistas defendem as favelas como parte da cidade

O reconhecimento das favelas como parte da Cidade do Rio de Janeiro foi a principal reflexão colocada hoje (19/08) em discussão na abertura do seminário “O que é a favela, afinal?”, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O encontro – dividido em dois dias, hoje e amanhã (20/08) – é parte das comemorações dos oito anos de fundação do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro (OF/RJ) e pretende discutir, aprofundar e difundir um conceito de favela capaz de superar os estereótipos comumente utilizados para descrever esses espaços.

Para o assessor da Presidência do BNDES, Ricardo Henriques, que fez a abertura do seminário, ao lado do diretor do Departamento de Desenvolvimento Urbano e Regional do banco, André Bezerra, e do coordenador geral do Observatório, Jorge Luiz Barbosa, a discussão social e territorial das favelas tem que girar em torno do desenvolvimento econômico. Henriques disse que é preciso ‘quebrar’ de vez as falsas percepções sobre os territórios e, por isso, o seminário acontece simultaneamente no espaço do BNDES e na sede do Observatório, no Complexo da Maré. “Hoje o BNDES tem visão mais consistente do ponto de vista social, de enfrentamento das desigualdades sociais e territoriais”, destacou.

A professora de arquitetura da UFF, estudiosa e pesquisadora de favelas, Maria Lais da Silva, fez uma reflexão de caráter histórico sobre o tema dizendo que a definição do conceito de favela é algo tão complexo que vem sendo pensado há décadas. “Complexidades e ambiguidades são questões próprias da cidade e por que não pensar em favela como cidade no campo da produção e do espaço urbano”, levantou.

A mesma questão é defendida pelo professor Jailson de Souza e Silva, fundador do Observatório e hoje secretário de Educação de Nova Iguaçu. Em sua palestra, Jailson destacou que todas as definições até agora sobre favelas foram sempre mais centradas nas características formais do que sociais, o que contribui para a visão estigmatizada dos espaços e impede ações práticas do poder público. “Existem processos de particularização cada vez maior das relações sociais que ignoram o diferente e a favela é o principal estrangeiro nesse processo”, assinala. Já Fernando Cavalieri, do Instituto Pereira Passos, destacou a importância do instituto no mapeamento das favelas. Segundo ele, até 1981 essas comunidades não eram mapeadas. “Hoje já temos 1.020 cadastradas territorialmente. Esse trabalho está sendo aprofundado em benefício das próprias comunidades”, informou.

Nesta quinta-feira, das 09h as 17h30, o seminário será realizado na sede do OF/RJ – Rua Teixeira Ribeiro, nº 535, Maré. Ricardo Henriques e Jailson farão a abertura e serão os responsáveis pela organização dos Grupos de Trabalho (GT). Cerca de 40 pesquisadores, especialistas e profissionais de diferentes áreas se reunirão para discutir “O que é a favela, afinal?”. Promovido pelo Observatório de Favelas do Rio em parceria com o BNDES, o encontro pretende elaborar um documento que será encaminhado aos órgãos competentes a fim de que sejam estimuladas pesquisas e políticas públicas para essas áreas.